Avanço em frente
Pelo meio das árvores vestidas de Lua,
Com os pássaros sobre elas adormecendo;
Grilos cantam:
Um áspero som redundante,
Alto, abundante...
Folhas agora, estalam sob meus pés,
Juntamente com ramos caídos estaladiços,
Num último suspiro de ambos
Após suas mortes.
O escuro apodera-se de novo de mim;
Mas é um escuro onde alguém mais existe...
As árvores parecem congeladas:
Apresentam-se frias,
Mas ainda fortes...
Mais ainda...
Assustam.
Gela-me também a respiração;
Caminho, lento...
Hesitante...
Parece outro mundo,
Outra dimensão;
O silêncio ecoa-me nos ouvidos,
Entre gritos de árvores caladas;
Ao longe, um mocho berra:
Minha alma fica assustada...
Corro!
Meus pés enterram-se em terra,
E a elevam ao ar;
Mais uma vez,
Sou o único que não pode voar!
Os grilos, as árvores, os gritos!
Esfaqueiam-me como chicotes...
Tapo os ouvidos em vão,
Pois ainda consigo ouvi-los!
Pelo mato denso me adentro:
Meu peito palpita
Como se tivesse dois corações;
As árvores me perseguem!
Os arbustos me cercam!
As silvas me agarram!
Os pássaros gritam para mim em volta:
Circulam-me como furacões!
Grito.
E abro os olhos...
Sinto a relva tenra,
Humida sob meus pés;
Em volta árvores já não há...
E os pássaros todos dormem...
A floresta ficou para trás;
E a Lua me olha, me sorri, e me diz:
"Afinal...
Querias tu voar,
Invejavas todos os que voam,
Mas esqueceste-te que és o único
Que pode sonhar."